Sexo: o que os brasileiros pensam, fazem e deixam de fazer 29b35
Veja reuniu cinco relatos sobre o impacto da prática sexual para a saúde do corpo e da mente 5qv4

Em meados de maio, uma reportagem especial de VEJA jogou luz sobre a intricada relação entre a vida sexual e a saúde geral das pessoas – se por um lado o sexo pode proteger de doenças e dar um up na saúde mental, por outro o estado do corpo e do espírito podem interferir na capacidade de aproveitar a libido ao máximo. Mas será que o brasileiro percebe isso no dia a dia?
A visão de especialistas e estudos científicos é inquestionável: “Sexo não funciona se a saúde física e a emocional não estiverem cuidadas”, e o contrário também é verdadeiro – com estudos apontando até para a quantidade ideal. Abaixo, destacamos o relato de cinco brasileiros sobre essa curiosa intersecção.
Uma vez por semana não basta 5q422b
Para a ciência há, sim, um número mágico: o hábito de fazer sexo de uma a duas vezes por semana está associado a um menor risco de depressão e condições de saúde mental. Foi o que mostrou um estudo com 15 700 adultos estadunidenses, realizado por pesquisadores do Colégio Médico da Universidade Shantou, na China.
O número não é estranho para os brasileiros. De acordo com uma pesquisa do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo que investigou mais de 3000 indivíduos, essa é mais ou menos a média por aqui. Mas esse número pode variar de pessoa para pessoa. É o caso de uma das nossas personagens.

- Amanda Nogueira, 29: Teve um momento em que eu tinha muitos desconfortos na hora do sexo e percebi que isso estava muito relacionado com a minha saúde mental. Foi quando ei por muitas descobertas, percebendo que tinha problemas com ansiedade e depressão. Esse período que durou um longo tempo, mas hoje tenho uma relação mais equilibrada. Entendi meus limites e descobri que preciso respeitar minha saúde mental e buscar conhecer mais minha saúde íntima. Hoje faço sexo cerca de uma vez por semana, mas não estou satisfeita, gostaria de fazer mais. Sinto que há uma relação forte com o resto da minha vida. Se eu não estou bem de saúde, o sexo não funciona, mas, por outro lado, se eu fico muito tempo sem a prática, fico irritada e entediada. É um fator muito relevante do meu dia a dia. O sexo só não é tão importante quanto o descanso.
A idade nem importa tanto assim 1j674s
É comum que as pessoas acreditem que o desejo sexual morre após a meia-idade, mas esse é um mito antigo. De fato, a necessidade dos indivíduos pode diminuir, a depender das condições de saúde, mas a libido não acaba: de acordo com o estudo brasileiro, mesmo após os 70, embora a frequência diminua para uma vez a cada duas semanas, em média, o indivíduo não se torna assexual. A prática continua tendo um impacto na vida.
- Fábio (nome fictício), 57: Hoje o sexo é muito importante para mim e sinto que ele interfere um pouco na minha saúde, em especial no estado de espírito e na autoestima. Já houve momentos em que exagerei na masturbação e na pornografia, por causa de alguns momentos de ansiedade, mas hoje tenho uma relação mais saudável e equilibrada. Faço de duas a três vezes por semana, mas gostaria de fazer mais. Não estou em um relacionamento, então tenho alguns parceiros diferentes. Uso medicamentos para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e tomo meus cuidados. Me sinto mais à vontade e sem medo, sem supervalorizar algumas “limitações” da idade.
Quantidade é importante, mas não é tudo 452t71
Apesar da quantidade ideal, diversos aspectos da saúde podem interferir na libido, como já foi observado. A depressão é o principal deles – assim como faz com todas as outras motivações, ela pode aplacar a vontade de se relacionar intimamente. O que poucos sabem é que o processo de cura também pode ter um efeito diferente do esperado.
Ao agir nos neurotransmissores para tentar devolver o prazer e a vontade de realização, os antidepressivos também podem ter efeitos colaterais, entre eles a disfunção sexual. A troca do tratamento pode devolver a libido, mas a maneira como esse processo de transição é encarado vai variar de acordo com as próprias experiências e com a relação com os parceiros.
- Clara V., 28: Minha relação com o sexo sempre foi muito saudável. Eu tive a sorte de ter pais muito abertos e cuidadosos, que não tinham problemas em falar sobre essas questões. Quando eu comecei a desenvolver minha sexualidade, eu pude conversar com a minha mãe, que me levou na ginecologista e respeitou muito o meu momento. Sempre tive muito esclarecimento sobre meus limites, sobre segurança e métodos contraceptivos. Para mim, o sexo sempre esteve muito ligado a saúde e cuidados mentais. Hoje, ele segue sendo importante e eu consigo entender quando as coisas não estão indo bem. Recentemente eu ei por um momento de dificuldades emocionais. O tratamento para a depressão entrou com uma mão, e a libido saiu pela outra, mas ao longo desses meses, conversando com meu marido, percebemos que o sexo era importante mas não era essencial. Enquanto eu foco em ficar bem, nós priorizamos outras formas de afeto. A compreensão dele nesse momento foi importante para que isso não se tornasse uma outra pressão.
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O sexo precisa ocupar o lugar certo 1t4c10
O sexo pode ter diferentes significados ao longo da vida, mas o prazer deve ser sempre o principal objetivo da prática. Mas isso nem sempre é aprendido desde o início e é natural que a maturidade traga reflexões sobre que espaço ele deve ocupar na vida do indivíduo.
- Pedro (nome fictício), 26: Em um certo momento da minha vida o sexo se tornou uma válvula de escape para conflitos que eu não estava conseguindo resolver. Hoje não faço sexo com a mesma frequência de antes. Se rola uma vez por mês já é muito, mas sinto que tenho uma relação muito mais saudável do que há alguns anos, embora ainda precise me desconectar de alguns sentimentos ruins. Atribuo grande parte da melhora ao meu tratamento psicológico. A prática é, sim, importante para a minha vida. Não como uma necessidade fisiológica, mas social. Não é que haja uma relação de dependência entre sexo e saúde, mas uma interfere na outra.
É preciso abrir mãos dos paradigmas 3r4e2q
Umas das coisas que interfere na experiência subjetiva do sexo são as crenças a respeito dele. As pesquisas mostram que enquanto os homens sentem uma grande necessidade de performar durante a prática, as mulheres se prendem muito a estética para se sentirem desejadas – ambas as experiências, assim como as amarras sociais, podem colocar o prazer e a capacidade de chegar ao orgasmo em segundo plano.
Se livrar dessas crenças e enxergar a prática com menos tabus talvez seja a maneira mais saudável de viver a experiência.

- Laura Mahara, 29: Eu comecei a minha vida sexual na adolescência e eu não conversava com ninguém sobre isso. Eu não conhecia meu corpo, nem o que me dava prazer. Cresci com a ideia de que a mulher deveria ser iva, para sempre dar prazer para o homem, sem se preocupar com o próprio prazer. Essa ideia fez com que eu me sentisse culpada pela minha libido e acabei me apoiando nos anticoncepcionais para diminuir a vontade. Hoje minha relação é mais saudável e eu encontrei esse equilíbrio estudando sobre o sexo, buscando conhecimento, abandonando o remédio, conhecendo meu corpo e aceitando que eu posso sentir prazer. Meu primeiro orgasmo foi dez anos após o início da minha vida sexual, mas hoje isso melhorou bastante. Faço sexo de duas a três vezes por semana e estou satisfeita com isso. Sinto que o sexo – e a sexualidade – tem uma grande impacto na minha saúde mental, tanto positiva, quanto negativamente.