‘Ponto azul’ do cérebro: a chave para antecipar diagnóstico de Alzheimer? 496r3t
Pesquisadores investigaram impactos das mudanças no pigmento do locus ceruleus para o envelhecimento saudável do cérebro e função cognitiva 3e4o5q

Uma pequena estrutura no tronco encefálico que chama atenção por sua coloração e seu nome diferente virou alvo de um novo estudo que busca alternativas para antecipar o diagnóstico da doença de Alzheimer, principal tipo de demência que afeta idosos. O locus ceruleus, também conhecido como “ponto azul” do cérebro, demonstrou em um estudo com 134 participantes de 19 a 86 anos que tem um papel fundamental para o envelhecimento saudável e atua como um marcador para detecção precoce da doença.
Pesquisadores da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, utilizaram um tipo específico de exame de ressonância magnética capaz de medir o pigmento responsável pela cor azulada da estrutura, a neuromelanina, e constataram mudanças ao longo da vida em pessoas saudáveis a partir dela. Nessas alterações, o grupo notou um pico na coloração no fim da meia-idade e um declínio drástico na sequência. Também ficou claro que ter o tom azul mais forte depois dos 60 anos tinha relação com melhor desempenho cognitivo. Os achados serão publicados na edição de junho do periódico Neurobiology of Aging.
O “ponto azul” está ligado a funções importantes para o ser humano, como atenção, memória, reserva e controle cognitivos, sono e vigília, por ter participação na produção de noradrenalina, neurotransmissor que atua nessas e em outras funções cerebrais, inclusive resposta ao estresse. Estudos mais antigos apontam que a região está relacionada com a manutenção da cognição e com o envelhecimento do cérebro.
“Pesquisas indicam que o locus ceruleus pode estar envolvido na reserva cerebral, um mecanismo que protege o cérebro contra processos degenerativos, como o Alzheimer. Estudos sugerem que essa região pode ser um dos primeiros locais onde ocorre a deposição da proteína tau, um dos marcadores da doença, ainda em suas fases iniciais”, explica o neurologista Norberto Frota, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz).
Diversidade dos participantes 3n6y30
Um ponto alto do estudo foi ter uma amostra populacional diversa, com 41% de participantes não brancos, o que permitiu observar picos mais altos entre negros, grupo mais suscetível ao Alzheimer, assim como as mulheres.
Os dados sobre picos do pigmento são importantes porque não demonstram apenas melhor função cognitiva. Eles podem ajudar a embasar uma teoria que estuda a sobrecarga do “ponto azul”. Segundo ela, ao viver sob estresse constante e sobrecarregando o cérebro, o estado de alerta e foco se eleva, mas se desgasta com o ar do ano, levando a quadros de ansiedade e depressão, que são fatores de risco para o Alzheimer.
“Ao examinar a saúde do locus coeruleus e sua relação com os processos de envelhecimento cognitivo, esses dados podem revelar quando um indivíduo está em uma trajetória de envelhecimento saudável e ampliar nosso entendimento sobre por que certos grupos podem ter maior incidência de Alzheimer mais tarde na vida”, disse, em comunicado, Adam Anderson, professor do Departamento de Psicologia e da Faculdade de Ecologia Humana da universidade.
O locus ceruleus e o futuro do Alzheimer 1h4753
Por enquanto, essas descobertas não têm efeito prático para pessoas que vivem com o Alzheimer, mas podem contribuir para futuras estratégias.
“Ao aprofundar o conhecimento sobre a degeneração do locus ceruleus, os pesquisadores podem desenvolver estratégias para proteger essa região e minimizar os efeitos da doença. Isso pode incluir terapias que modulam a noradrenalina ou intervenções que retardam a deposição da proteína tau”, afirma Frota.

Essa compreensão é essencial também para fortalecer as recomendações de aplicar medidas que protegem a saúde cognitiva, assim como promover a conscientização sobre evitar os fatores de risco para a doença, como tabagismo, sedentarismo e obesidade.
“Uma vez que a gente consiga estabelecer a relação entre esse ponto azul, a doença e o envelhecimento saudável, será possível intervir de forma mais precoce, oferecendo e cognitivo e terapias para retardar a progressão”, diz o neurocirurgião João Vitor Lima, especialista pela Universidade Federal de São Paulo.