Ucrânia nazista e Ocidente vilão: o que diz novo manual escolar da Rússia q626a
Na volta às aulas, livro inédito tem capítulo sobre guerra na Ucrânia, para alunos de 16 a 18 anos, na tentativa de controlar a narrativa sobre o conflito n313e

O primeiro manual escolar de história da Rússia, recebido nesta sexta-feira, 1º, por escolas do país, reflete todas as teses defendidas e difundidas pelo presidente russo, Vladimir Putin, sobre a invasão à Ucrânia: Kiev é nazista, Moscou é a vítima e as nações do Ocidente perpetuam a “russofobia”.
O ex-ministro da Cultura e conselheiro presidencial, Vladimir Medinski, está entre os autores do livro estudantil, e defendeu que não incluir explicações sobre o conflito, iniciado em fevereiro do ano ado, seria “uma aberração”.
O capítulo “A Rússia hoje. Operação Militar Especial”, que trata sobre a guerra, é direcionado a alunos das duas últimas séries do chamado ensino secundário, dos 16 aos 18 anos. Na tentativa de controlar a narrativa sobre a invasão, o tópico restringiu o espaço de outros assuntos. Críticos alegam que o manual difere dos fatos históricos e doutrina os estudantes a partir dos slogans do Kremlin.
Os escritores afirmam, ao longo do texto, que o Ocidente promove a “russofobia”, o ódio a Moscou e sua cultura, além de instigar conflitos na região com o objetivo de desmantelar o governo para apoderar-se dos recursos naturais do país. Os cidadãos da Ucrânia, independente desde 1991, após o fim da União Soviética, teriam sido ensinados a hostilizar “tudo o que é russo” e apoiar “ideias neonazistas”.
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O livro aponta que a invasão ao “Estado ultranacionalista” teria unido os russos e gerado heróis nacionais. O exército de Putin, de acordo com o manual, teria recebido ordens para não disparar em áreas civis, ao o que as forças do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, teriam usado inocentes como “escudos humanos”.
“Tire as suas próprias conclusões sobre a nova tática militar da Ucrânia”, aconselha o manual ao dirigir-se diretamente aos alunos.
Além disso, a obra adverte os estudantes a não acreditar em notícias falsas sobre a guerra, sendo parte de um plano dos opositores ao Kremlin para enfraquecer o governo. O texto chega, inclusive, a tratar a saída de investidores estrangeiros, que debandaram após o início do conflito, como oportunidade para a mão de obra russa incluir-se no mercado de trabalho.
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“Depois da saída das empresas estrangeiras, muitos mercados estão abertos para você”, alega o texto. “Não perca a oportunidade. Hoje a Rússia é realmente um país de grande potencial.”
Ao final do capítulo, há um mapa do território russo que inclui as regiões ucranianas anexadas ilegalmente por Putin em setembro do ano ado: Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia. Em nenhum momento, contudo, o exército da Rússia teve controle total sobre essas áreas.
O texto também não trata da contraofensiva militar da Ucrânia, lançada em junho, que já recuperou parte dos territórios. Em agosto, a vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, reivindicou “sucesso parcial” nos arredores da vila de Robotyne, em Zaporizhia, além da recuperação de quase três quilômetros ao redor da cidade de Bakhmut.