‘Preparado para o pior’: o que ativista brasileiro disse a VEJA antes de Israel interceptar barco 6t1d60
Thiago Ávila estava numa embarcação que levava ajuda humanitária a Gaza com outras 11 pessoas, incluindo a sueca Greta Thunberg 1d4m50

Após dias sendo vigiada por drones, uma embarcação com doze ativistas e carregada de itens básicos humanitários com destino a Gaza foi interceptada neste domingo, 8, pelas forças de Israel. Todos os seus tripulantes, incluindo a ativista sueca Greta Thunberg, foram rendidos e levados. Entre eles, estava o brasileiro Thiago Ávila, coordenador internacional da Coalizão da Flotilha da Liberdade.
Com o barulho do mar ao fundo, Thiago conversou com a reportagem de VEJA na última quinta-feira 5 sobre os perigos de levar um pequeno barco a vela lotado de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, onde quase toda a população enfrenta “risco crítico” de fome. Na ocasião, ele adiantou que não se surpreenderia diante do episódio que veio a cabo três dias depois, no domingo, e disse estar preparado para o pior.
“O maior perigo é um ataque, um ataque que Israel já fez há um mês contra o barco Conscience“, disse Ávila, em referência à embarcação humanitária atingida por drones israelenses na costa de Malta no início de maio. “A gente sabe que Israel tem poder para isso. Mas eu garanto que se Israel nos ataca, se nos prende, se nos faz mal, em pouco tempo a gente vai ter uma nova flotilha, não com duas pessoas, mas com 120 ou com 1.200 pessoas.”
“São quatro grandes cenários: ser derrotado no porto pela guerra burocrática; chegar próximo e ser interceptado, sequestrado, levado para Israel e depois deportado; ataque direto, como já aconteceu há um mês e há 15 anos; ou chegar em Gaza, cumprir a missão humanitária e depois retornar para conseguir trazer ainda mais alimentos em outra viagem”, continuou. “Nossa equipe é treinada para saber responder bem a essas situações de emergência. De longe, um ataque é o pior cenário. Estamos preparados para o pior.”
URGENTE: Israel invadiu a Flotilha da liberdade da Greta Thunberg e do Thiago Ávila. pic.twitter.com/XzSZmvIdQD
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) June 9, 2025
Ávila também contou que é pai de uma menina de um ano e que a decisão de ir até Gaza, apesar dos riscos, foi tomada em conjunto com a sua esposa, Lara Souza. Ele definiu a participação na flotilha como uma “missão familiar”, explicando o motivo para ter escolhido dar continuidade à viagem: “Todo santo dia eu olho para a minha filha e, quando eu abro meu celular, tem crianças parecidas com ela sendo bombardeadas”. Mais de 54 mil palestinos morreram desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
“Eu gostaria de estar com a minha filha. Mas eu e minha esposa, a gente conversa muito sobre isso. É uma missão familiar”, contou Ávila. “A gente vive uma vida cheia de amor, cheia de carinho, e é isso, gostaria de estar em casa. Quem deveria estar fazendo isso aqui são os governos, não era a gente. Mas não fazem nada.”
Ainda não está claro o que vai acontecer com o barco e os ativistas. De acordo com a imprensa israelense, a embarcação seria escoltada até o porto de Ashod e seus tripulantes seriam, então, deportados.