Israel permite primeira entrada de ajuda humanitária em Gaza desde 2 de março 2k3616
Decisão segue anúncio de primeiro-ministro de tomada total de controle da região e forte pressão internacional frente cenário de fome 4w263s

As Forças de Defesa de Israel permitiram nesta segunda-feira, 19, a entrada na Faixa de Gaza de caminhões com suprimentos de ajuda humanitária, poucas horas depois de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciar, em meio à forte pressão internacional, a liberação do transporte de mantimentos, bloqueados desde 2 de março.
Ao todo, segundo as Forças de Defesa de Israel, cinco caminhões com itens que incluem alimentos para bebês entraram na Faixa de Gaza pela travessia de Kerem Shalom, na tríplice fronteira entre Israel, Egito e Faixa de Gaza.
Mais cedo, nesta segunda-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel irá “tomar controle” de toda a Faixa de Gaza, na esteira do anúncio da retomada de operações terrestres no final de semana e de extensos ataques aéreos que deixaram mais de 100 mortos e destruíram instalações médicas no norte do enclave no domingo.
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“Os combates são intensos e estamos progredindo. Tomaremos o controle de todo o território da Faixa de Gaza”, disse o premiê em vídeo publicado nas redes sociais. “Não vamos ceder. Mas para ter sucesso, temos que agir de forma que não nos detenham”.
Em seguida, Netanyahu afirmou que “não devemos deixar que a população caia na fome, nem por razões práticas, nem por razões diplomáticas”. A mensagem foi vista como uma explicação à decisão de anunciar, no domingo, a entrada limitada de ajuda humanitária à região, visto que ele explicou também que “os amigos” de Israel disseram que não tolerariam “imagens de fome em massa”.
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A entrega de ajuda humanitária se dá em meio à crescente pressão da comunidade internacional em relação. No sábado, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, fez um apelo para “redobrar nossa pressão sobre Israel para interromper o massacre em Gaza”, enquanto o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, afirmou que era preciso “dizer ‘basta’ ao governo israelense”.
Em 2 de março, Israel impôs um bloqueio total a Gaza, impedindo a entrada de alimentos, medicamentos, combustível e outros suprimentos ao território onde vivem mais de 2 milhões de palestinos. Diversas agências de ajuda humanitária alertaram que o bloqueio está levando o devastado sistema de saúde de Gaza a um colapso.
A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, segundo relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
O documento indicou que a trégua, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”.
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A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.
As negociações para um cessar-fogo continuam, com Israel buscando uma trégua temporária para a libertação de reféns, enquanto o Hamas exige a retirada completa das forças israelenses e o fim da guerra como parte de qualquer acordo. O Ministério da Saúde de Gaza estima que mais de 53.000 palestinos foram mortos desde o início do conflito em outubro de 2023.
A frustração em Israel tem aumentado. Um número pequeno, mas crescente, de israelenses se recusa a comparecer ao serviço militar, correndo até mesmo o risco de prisão. Outros israelenses têm exibido fotos de crianças mortas em Gaza durante manifestações semanais exigindo um acordo para libertar todos os reféns e pôr fim à guerra.