Irã alerta Europa que sanções podem resultar em escalada de tensões ‘irreversível’ 2h854
Declaração ocorre um dia após quarta rodada de negociações nucleares entre Teerã e Washington 4x4tv

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, alertou nesta segunda-feira, 12, que a decisão de Reino Unido, França e Alemanha de acionar um mecanismo das Nações Unidas para reimpor sanções contra o país pode levar a uma escalada de tensões “irreversível”. A declaração ocorre um dia após a quarta rodada de negociações nucleares entre Irã e Estados Unidos, que havia sido suspensa no início do mês.
“O Irã deixou sua posição clara. Avisamos oficialmente todos os signatários do JOA (pacto nuclear) que o abuso do mecanismo de retorno levará a consequências — não apenas o fim do papel da Europa no acordo, mas também uma escalada de tensões que pode se tornar irreversível”, escreveu Araqchi em uma coluna na revista semanal sa Le Point.
Uma resolução da ONU que ratificou o pacto nuclear de 2015, do qual Trump saiu no primeiro mandato, determina que os três países europeus podem estabelecer as sanções das Nações Unidas contra o Irã antes de 18 de outubro, data em que o mecanismo “snapback” expira, caso o país do Oriente Médio viole seus compromissos nucleares. No entanto, embora não façam parte das negociações Washington-Teerã, as potências europeias buscam coordenar o uso, ou não, da medida, de acordo com a agência de notícias Reuters.
As tratativas entre o E3 — um grupo diplomático informal que reúne França, Alemanha e Reino Unido — e o Irã, em Roma, no início de maio, foram adiadas. Araqchi afirmou que já houve um encontro entre o vice-ministro das Relações Exteriores iraniano e seus homólogos do E3, Ele definiu a reunião como um “início promissor, mas frágil”. Segundo um documento obtido pela Reuters, os países do E3 analisam retomar as sanções até agosto, caso nenhum acordo substancial seja alcançado.
+ Irã e EUA retomam negociações nucleares, mas divergências ainda são evidentes
Conversa retomada o1n14
Representantes do Irã e dos Estados Unidos retomaram negociações neste domingo, 11, sobre disputas em torno do programa nuclear de Teerã, relatou a mídia estatal iraniana. Embora ambos os países já tenham informado que preferem vias diplomáticas para chegar a um acordo, os dois também possuem profundas divisões em diversas linhas vermelhas, dificultando o trabalho de negociadores.
Antes de partir para Mascate, Araqchi disse à TV estatal iraniana que “o Irã tem posições bem conhecidas, baseadas em princípios claros… Esperamos chegar a uma posição decisiva na reunião de domingo”. Ele acrescentou que a equipe de especialistas iranianos está no Omã e “será consultada se necessário”.
Na quarta-feira, o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, disse ao portal americano Breitbart News que a linha vermelha de Washington é: “sem enriquecimento. Isso significa desmantelamento, sem armamento”, exigindo o desmantelamento completo das instalações nucleares iranianas em Natanz, Fordow e Isfahan.
Em resposta, Araqchi afirmou que o Irã não comprometeria seus direitos nucleares, que incluem o enriquecimento de urânio. Apesar disso, Teerã demonstrou disposição a negociar algumas restrições ao seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções, segundo autoridades iranianas, mas encerrar seu programa de enriquecimento ou entregar seu estoque de urânio enriquecido estão entre as “linhas vermelhas do Irã que não poderiam ser comprometidas” nas negociações.
As discussões nucleares ocorrem em clima de ameaça, uma vez que o presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu bombardear o Irã caso as conversas fracassem. Em 2018, o republicano, em seu primeiro mandato, retirou os Estados Unidos do Acordo Nuclear que considerava “o pior acordo já feito na história” e restabeleceu sanções econômicas contra o Irã. Teerã, por sua vez, voltou a enriquecer urânio, alegando que os americanos violaram o texto e, portanto, só iriam voltar a cumprir as demandas caso a Casa Branca retirasse as restrições econômicas e cumprisse sua parte.