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Thomas Piketty: “O milionário deve retribuir”

O francês continua a agitar o universo dos economistas com propostas heterodoxas (e polêmicas) para fechar o fosso entre ricos e pobres

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 13h54 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00

Celebridade desde o lançamento de O Capital no Século XXI, em 2013, o francês Thomas Piketty, 49 anos, continua a agitar o universo dos economistas com propostas heterodoxas (e polêmicas) para fechar o fosso entre ricos e pobres. De Paris, ele falou com o editor Ernesto Neves sobre seu novo livro, Capital e Ideologia.

É possível acabar com a desigualdade? Eu não acho que se possa chegar à igualdade total. Algum nível de diferença é necessário, até porque a diversidade funciona como incentivo ao progresso. Mas a disparidade que existe no Brasil é quase tão extrema quanto a da França no século XIX e essa situação é insustentável.

A taxação de grandes fortunas, que o senhor aponta como instrumento para a melhor distribuição de renda, sempre foi vista com desconfiança. Isso está mudando? Entre a crise financeira mundial de 2008 e hoje, houve uma mudança significativa. Quando lancei meu primeiro livro, em 2013, participei de um debate nos Estados Unidos com a senadora Elizabeth Warren, e ela via esse imposto com ceticismo. No ano ado, ele era um dos principais pontos de sua plataforma de pré-candidata democrata à Presidência americana.

O nó da questão, sempre ressaltado, é que os muito ricos desviam seu dinheiro para paraísos fiscais e escapam da tributação. Como resolver isso? Cometemos um grave erro ao sacralizar o direito de acumular riquezas. Quem fica milionário se beneficiou do sistema educacional e da infraestrutura de seu país e lhe deve retribuição. No entanto, basta apertar um botão e a riqueza se transfere para um paraíso fiscal. Criou-se o sistema perfeito para quem tem muitos recursos e não quer pagar imposto, visto que a classe média não tem o a produtos financeiros sofisticados. A solução está na criação de uma regulação de fiscalização e taxação de fortunas.

Sua proposta de “herança comum”, em que o dinheiro deixado para uns vai para um fundo comunitário, não é utópica, para não dizer demagógica? A alternativa é esperar que o crescimento econômico crie riqueza para todos, e isso aguardamos há muito tempo. A propriedade privada temporária, que eventualmente é transferida para mecanismos de igualdade social, impede a concentração.

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Que lição pode ser tirada da crise do novo coronavírus? As autoridades precisam se mexer para aperfeiçoar os meios de transferência de renda.

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Publicado em VEJA de 22 de julho de 2020, edição nº 2696

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