O que ensina a espetacular queda livre da Magalu no mercado de ações
Papeis da companhia derreteram nos últimos dois anos

Nos últimos dois anos, as ações do Magazine Luiza acumularam uma estrondosa queda de 81%. Em seu melhor momento, janeiro de 2023, o papel chegou a ser negociado por 45 reais. No fechamento desta quarta-feira 7, após uma queda de 2,3%, a ação valia apenas 8,54 reais. Com isso, uma empresa que chegou a valer quase 180 bilhões de reais, virou um negócio de pouco mais de 6 bilhões de reais. A implosão é ainda mais impressionante quando se lembra que a empresa controlada pela família Trajano não enfrentou nenhum evento extremo no período, como a descoberta de fraudes bilionárias ou um pedido de recuperação judicial.
O derretimento do Magalu na bolsa se deve, exclusivamente, à incapacidade da companhia de atender as expectativas que ela mesma alimentou. A maior delas foi a de que seria bem-sucedida na transição para o varejo online. Fundada no município de Franca (SP) em1957, a rede de móveis e eletrodomésticos abriu seu capital na bolsa em 2011. Nos anos seguintes, tornou-se uma espécie de queridinha dos pequenos investidores encantados com a promessa de que o Magazine se tonaria uma das maiores do ramo. Em seu ápice, em meados de 2020, esse sonho atraiu mais de 1 milhão de investidores pessoas físicas para suas ações, e seu valor de mercado atingiu o recorde de 177,5 bilhões de reais.
A ilusão, contudo, se desfez rapidamente. A aquisição acelerada de empresas de e-commerce, como o Kabum! e a Netshoes, bem como os demais investimentos em desenvolvimento, não apresentaram os resultados esperados, e a prometida explosão do Magazine Luiza nas vendas online não ou de um tiro de festim. O crescimento do e-commerce avança a os de tartaruga, bem como a integração das lojas físicas com o site – o chamado omnichannel.
Para completar, declarações de Luiza Trajano, a matriarca do clã, também azedaram o humor dos investidores. Em 2023, por exemplo, ela afirmou que as ações “estavam apanhando”, porque a empresa “sempre acreditou em loja física”. A afirmação fez os analistas questionarem se a empresária apoiava, de fato, a digitalização da companhia ou se apenas jogava para a torcida. Na dúvida, a maioria dos investidores decidiu não pagar para ver. Aqueles que continuaram com as ações só viram uma coisa desde então: a destruição de uma fatia relevante de seu patrimônio.
Luiza Trajano ou o comando do negócio para o filho, Fred Trajano, em 2016. Ele ocupa desde então o cargo de CEO. Luiza, por sua vez, ou a ser presidente do conselho de istração. O mercado atribui as apostas equivocadas dos últimos anos à gestão de Fred. Em 2021, ele se tornou sócio de um portal de notícias, o Poder360, comprando uma fatia de 25% do negócio.
O Poder360, que se define como um veículo “independente”, já publicou mais de 500 notas sobre a Magalu, mas nenhuma delas sobre a impressionante derrocada da companhia na bolsa.