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“Empreender é suor e sorte”

Luiz Quinderé, de 32 anos, começou a vender brownie aos 15 e hoje produz 1 tonelada do doce por semana

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h27 - Publicado em 12 mar 2022, 08h00

Estava na escola, aos 15 anos, quando notei uma oportunidade de negócio. Na ocasião, eu havia levado um brownie pela primeira vez de lanche e o doce fez o maior sucesso com meus colegas. Eu conhecia há pouco tempo o tal bolinho: uma amiga me serviu um e eu peguei a receita. Em casa, pedi à Antonieta, cozinheira que trabalhava para meus pais, que fizesse para mim. Ao perceber a demanda na escola, fizemos mais brownies e comecei a vender. Na época, em 2005, eu os vendia por 3 reais — e 50% dos lucros ficavam com Antonieta. Os pedidos cresceram para além do colégio e ei a fazer entregas de skate. Seis anos depois, eu estava na Ana Maria Braga falando do Brownie do Luiz, apelido que os amigos usavam e eu abracei como nome da empresa. Hoje, temos sessenta funcionários, produzimos 1 tonelada de brownies por semana e estamos presentes em mais de 2 000 pontos de vendas no Brasil. Conto essa história em detalhes no livro Fora da Lata, lançado pela editora Rocco. Desde 2005, venho construindo essa trajetória e senti o desejo de escrever um livro para ajudar os que estão começando no mundo dos negócios e para tirar um pouco o glamour do empreendedorismo.

Foram muitos os perrengues que enfrentei até aqui. As pessoas não veem as horas que um empreendedor fica sem dormir, a rotina puxada no fim de semana e as muitas burocracias. Minha grande inspiração nessa área foi minha mãe, Renata Quinderé. Aos 24 anos, na década de 80, ela saiu do zero e abriu a Academia da Cachaça, no Rio de Janeiro. Minha mãe é cearense e meu pai, maranhense. Foi a partir dessa herança nordestina que aprendi desde cedo sobre a importância do trabalho. Minha mãe perdeu o pai em 1973, vítima do acidente do voo Varig 820, que saiu do Galeão rumo a Londres e caiu na França. O luto foi seguido de dificuldades financeiras e minha avó, que não trabalhava, teve de se reinventar para criar cinco filhos sozinha. A mudança para o Rio foi uma forma de buscar uma vida melhor tanto para a minha família materna quanto para a paterna.

Desde criança, eu entendi que devia ter meu próprio dinheiro. Aos 8 anos, vendi balas para comprar a camiseta do meu time (Botafogo). Na adolescência, joguei futebol no Botafogo e no Flamengo. Eu não nasci para trabalhos convencionais. Não fui bem na escola, nem na faculdade — que não terminei. Deixei de lado o roteiro “formatura e emprego estável”. Mas sempre tive o desejo de tirar projetos do papel e provar que consigo ir além do que esperam de mim. Uma das grandes lições que minha mãe me deu foi a frase: “Crie o problema e depois a gente resolve”. É uma boa maneira de fazer um planejamento sem medo de ousar. Outro aprendizado vindo dela foi a importância de ter pessoas confiáveis ao seu redor. Depois que a Antonieta deixou a casa dos meus pais, a Vânia Maria assumiu a produção — e hoje é minha sócia. Do meu quadro societário, apenas um injetou dinheiro na empresa, os demais trabalham com suas especialidades. Eu me cerquei de amigos e bons profissionais, o que não me isentou de enfrentar dramas, como o baque de ter 40 000 reais roubados por um funcionário.

Quando a produção de brownies deixou de ser caseira para virar de fato uma empresa, deparei com as dificuldades de empreender no Brasil. Abrir um negócio aqui é quase uma burrice, pois a chance de quebrar é maior do que a de sobreviver. A relação risco e retorno não é equilibrada. Os pequenos empresários e aqueles que, como eu, partiram para o empreendedorismo precisam ter estímulos fiscais para continuar na jornada do crescimento, no jogo da economia. Ao unir essas lições no livro, vi que empreender é uma mistura de suor e sorte. É preciso ser dedicado e focado para ter o próprio negócio.

Luiz Quinderé em depoimento dado a Raquel Carneiro

Publicado em VEJA de 16 de março de 2022, edição nº 2780

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