Cortina de fumaça: medidas anunciadas não atacam os gastos públicos, dizem analistas
Especialistas esperam desenho final das medidas, mas por ora a recepção tem sido negativa por se tratarem de aumento de impostos e não de corte de gastos

As medidas de ajuste fiscal apresentadas pelo ministro Fernando Haddad aos líderes do Congresso no domingo,8, não convenceram analistas de mercado da disposição do governo em se comprometer com a eficiência nos gastos públicos.
“De uma forma geral, a recepção tem sido bastante negativa, mas precisamos ver o desenho final da medida para tirar conclusões mais detalhadas”, diz Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research. Ele diz que a expectativa é pelo início de uma discussão sobre reformas estruturais que podem melhorar a perspectiva para a evolução das contas públicas em longo prazo. “Só que não é isso que está ocorrendo, o que se discute é um aumento de impostos e isso obviamente é recebido de forma negativa para o mercado, principalmente porque vai impactar todos os agentes em medidas diferentes”, diz.
A proposta de cobrar 5% de imposto de renda de títulos até então isentos, como LCI e LCAs tem sido criticada já que são fonte de crédito e financiamento do agronegócio e do setor imobiliário. Segundo dados recentes da Anbima, esses dois títulos somam mais de 1 trilhão de reais em estoque. “No caso das LCAs é 573 bilhões de reais e no caso das LCIs 463 bilhões de reais, segundo dados da Anbima mais recentes”, diz Almeida.
O economista Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos, diz que a proposta de tributar LCI e LCA não é nova. “Já teve alguns presidentes de Banco Central, alguns ministros da Fazenda falando sobre esse tema ao longo dos últimos 15 anos e não avança, simplesmente chega lá na hora da votação, acabam tirando do texto, porque isso garante um subsídio para setores que são importantes para a economia.
A análise de Marcatti é de que ainda é difícil dizer se a redução do IOF vai ser, de fato, compensada. “Acho que tudo isso é cortina de fumaça para um problema muito mais sério do fiscal, que é cortar gastos”, diz.
As medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda representam uma tentativa direta de aumentar a arrecadação federal em um momento de forte pressão fiscal, concorda Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. “Essas medidas trazem ganho de curto prazo para as contas públicas, mas não atacam a raiz dos problemas fiscais do Brasil, como o crescimento das despesas obrigatórias”, afirma.