Com taxação e recuo, Haddad gera caos ao estilo Trump
O governo Lula conseguiu a façanha de adotar, ao mesmo tempo, duas táticas desastrosas ao divulgar medidas para aliviar as contas públicas

A equipe econômica do governo Lula conseguiu a façanha de adotar, ao mesmo tempo, duas táticas desastrosas ao divulgar medidas para aliviar as contas públicas. A primeira foi anunciar uma medida de contenção de gastos, o que gerou otimismo nos investidores, junto com aumento de imposto, o que teve o efeito contrário. Ou seja, a boa notícia foi anulada e até superada pela má notícia. A segunda atitude foi a maneira como se deu o recuo parcial em relação a uma das cobranças adicionais de imposto: a confusão já estava instalada e a volta atrás não vai ser capaz de consertar os estragos iniciais. Lembrou a tática que vem sendo adotada pelo presidente americano Donald Trump nas últimas semanas na sua política comercial: as idas e vindas nos anúncios de tarifas de importação apenas geram incertezas entre investidores e empresários, fazendo com que todos percam.
Já se sabia que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, iria anunciar novas medidas fiscais nesta quinta-feira, 22. Mas o tamanho da contenção de gastos previsto pelo governo foi uma surpresa positiva, pois veio maior do que o esperado: 31 bilhões de reais de contingenciamento no orçamento deste ano, o que poderia ajudar a cumprir a meta fiscal. A informação vazou na imprensa antes do anúncio oficial e os investidores se animaram, fazendo o Ibovespa disparar.
Por pouco tempo. Ocorre que logo depois veio a informação de que, além do congelamento de despesas, o governo adotaria também uma medida arrecadatória, aumentando a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em algumas situações, como aportes acima de 50.000 reais em fundos de previdência VGBL, compras no exterior no cartão de crédito e empréstimos para empresas. Taxad atacava novamente e o mercado reagiu. Na manhã desta sexta-feira, na abertura da bolsa, o Ibovespa desabou mais de 3.000 pontos em apenas 20 minutos.
O episódio lembrou o erro tático cometido pelo governo no final do ano ado, quando Haddad foi à TV para anunciar cortes de gastos e, ao mesmo tempo, o plano de dar isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5.000 reais por mês. Ou seja, uma medida de aperto fiscal junto com uma perda de arrecadação: uma verdadeira bomba para os cofres públicos.
Desta vez, o desespero bateu mais rápido no governo. Diante das críticas em relação ao pacote como um todo, mas principalmente quanto à cobrança do IOF sobre remessas para fundos de investimento no exterior, Haddad voltou atrás só nesse ponto. O recuo em si pode estar correto, mas ou a impressão — certeira — de que a equipe econômica não consegue prever o efeito de suas decisões ou, o que é pior, não tem a menor ideia do que está fazendo. É tudo na base da improvisação?
Vai levar dias para se conseguir amenizar o impacto das novas regras de cobrança do IOF. O residual da história, porém, não será desfeito nunca: a noção de que este governo só conhece um caminho para equilibrar os cofres públicos, que é o de aumentar impostos.
O governo Lula parece ter absorvido o estilo Trump de governar. Primeiro, anuncia medidas draconianas que deixam empresários em pânico e provocam caos nas bolsas de valores. Depois, recua parcialmente na esperança de gerar um otimismo sem lastro na realidade, com todos comemorando pelo cenário menos pior. A diferença é que Trump faz isso de propósito. No caso do governo brasileiro, as idas e vindas são fruto apenas da incompetência.