Banco Mundial alerta para década de estagnação
Instituição projeta crescimento de 2,3% em 2025, afetando 70% dos países e marcando maior desaceleração desde 1960

O mundo está entrando, silenciosamente, em sua década mais fraca de crescimento econômico desde os anos 1960. Em relatório divulgado nesta terça-feira, 10, o Banco Mundial reduziu sua previsão de expansão global para 2025 de 2,7% para 2,3%, uma desaceleração que, embora não configure recessão, sinaliza estagnação prolongada.
A revisão atinge quase 70% das economias avaliadas, incluindo Estados Unidos, China e Europa. As economias avançadas devem crescer apenas 1,2% no próximo ano, meio ponto percentual abaixo da previsão anterior. Nos países em desenvolvimento, o crescimento caiu de 4,1% para 3,8%.
“Estamos operando em meio à neblina. A incerteza segue sendo um obstáculo poderoso, desacelerando investimentos e obscurecendo as perspectivas”, afirmou Ayhan Kose, vice-economista-chefe do Banco Mundial.
O relatório destaca o impacto de tarifas mais altas, tensões comerciais e geopolíticas e um cenário de inflação ainda acima dos níveis anteriores à pandemia. A estimativa é que o índice global de preços ao consumidor fique em 2,9% em 2025, acima da meta de muitos bancos centrais, pressionando juros e encarecendo o crédito.
O Banco Mundial não prevê uma recessão formal, mas aponta que o crescimento deste ano deve ser o mais fraco fora de uma crise global desde 2008. A média projetada de expansão do PIB mundial entre 2020 e 2029 é de 2,5% ao ano, a menor desde que a instituição começou a monitorar dados decadais nos anos 1960.
O impacto será desigual. As economias mais pobres devem sofrer os efeitos mais duradouros: até 2027, o PIB per capita dessas nações deve permanecer 6% abaixo dos níveis pré-pandêmicos. Em muitos casos, o crescimento lento será insuficiente para reduzir pobreza, gerar empregos de qualidade e aumentar a produtividade.
A deterioração da perspectiva econômica também reflete um quadro comercial global cada vez mais fragmentado. A guerra na Ucrânia, as disputas tecnológicas e comerciais entre China e EUA e o avanço de políticas protecionistas promovidas por Donald Trump colocam em xeque o modelo de integração que marcou as últimas décadas.
Para o Banco Mundial, o ritmo atual de crescimento global está abaixo do necessário para atender às demandas de uma população em expansão, reduzir desigualdades e acelerar a transição energética. “O comércio ainda existe, e há novas parcerias sendo discutidas”, disse Kose. “Mas o motor da economia global está funcionando em marcha lenta, e pode continuar assim por um bom tempo.”