Namorados: Assine Digital Completo por 1,99

Marvel e DC apresentam uma galeria de heróis oriundos da comunidade LGBT 231bw

Puxado pelo Capitão América, o movimento segue em prol da diversidade exigida pelos jovens 144p23

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h12 - Publicado em 2 abr 2021, 06h00
ASSUMIDO - Aaron Fisher, o Capitão América gay: protetor de moradores de rua -
ASSUMIDO - Aaron Fisher, o Capitão América gay: protetor de moradores de rua – (Marvel/.)

Símbolo patriótico desde que nasceu, há exatos oitenta anos, o herói dos quadrinhos Capitão América apareceu na capa da primeira edição, em março de 1941, derrubando Adolf Hitler com um soco. O gibi vendeu quase 1 milhão de cópias, foi replicado em inúmeras imitações e fincou o patriotismo no universo das HQs. Na história original, criada por Joe Simon e Jack Kirby, um soro milagroso faz do franzino Steve Rogers, um homem dos mais comuns, um soldado invencível durante a II Guerra. De lá para cá, vários outros indivíduos sem destaque vestiram o uniforme e escudo com as listras e a estrela tiradas da bandeira dos Estados Unidos e — tcharan! — assumiram a identidade e a patente do super-herói da Marvel. Agora, um Capitão América como nunca se viu se prepara para salvar o mundo: em junho, será encarnado nos gibis por Aaron Fisher, jovem gay com piercings e tatuagens por todo o corpo. Ele não será o único integrante da comunidade LGBT a se instalar no panteão dos fortões dos desenhos — tanto a Marvel quanto sua arquirrival, a DC Comics, anunciam estreias do gênero (com trocadilho) neste ano.

Aaron Fisher é o personagem principal da primeira edição da série limitada Os Estados Unidos do Capitão América, na qual Rogers, o América original, junto com capitães de outros períodos, empreende uma espécie de road trip em busca de pessoas que, como ele, defendem os fracos e oprimidos. Entra Fisher, o Capitão América das Ferrovias, que se dedica a proteger moradores de ruas, quase invisíveis para a sociedade (ferrovias abandonadas são tradicionais refúgios dos sem-teto americanos). O texto da história é obra do gay Josh Trujillo e os desenhos, da artista trans Jan Bazaldua. “Enquanto desenhava, pensava que o Capitão América que conhecemos está sempre salvando o mundo. Já Aaron ajuda os que andam pelas ruas, solitários e enfrentando problemas diariamente”, diz Bazaldua. “É muito gratificante ver gente de todo o mundo abraçando o novo personagem”, completa Trujillo a VEJA.

COLEÇÃO TEMÁTICA - DC Pride: Asa Noturna com a bandeira LGBT, e Hera e Arlequina em clima de romance -
COLEÇÃO TEMÁTICA - DC Pride: Asa Noturna com a bandeira LGBT, e Hera e Arlequina em clima de romance – (DC Comics/.)

Outros homossexuais frequentam HQs há anos, mas sempre no segundo escalão da pirâmide super-heroica. O primeiro foi justamente da Marvel: Jean-Paul Beaubier, o Estrela Polar, surgiu em 1979, como parte do Tropa Alfa. Na época, sua sexualidade era apenas sugerida, por ordem dos editores — ele só saiu do armário em 1992, assim mesmo com o obrigatório selo Adults Only. Também estão fora da lista VIP de heróis Wiccano e Hulkling, integrantes dos Jovens Vingadores da mesma Marvel, que apareceram se beijando em um da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2019 — imbuído de fúria moralista, o prefeito Marcelo Crivella quis recolher todos os exemplares do livro, mas eles se esgotaram antes disso.

Continua após a publicidade

A indústria dos quadrinhos vem se mexendo nos últimos anos para atender à demanda por maior representatividade em seu universo branco e masculino — daí a introdução do Pantera Negra e da Capitã Marvel no cardápio de heróis. Uma pesquisa de 2017 analisou todos os então 34 476 personagens da Marvel e da DC e concluiu que apenas 26,7% eram mulheres (sendo a mais poderosa a curvilínea e decotada Mulher-Maravilha). Outro levantamento, de 2015, apontou que 79% dos profissionais dos quadrinhos eram brancos. Os consumidores também se encaixavam no grupo, até os gibis migrarem dos mercados e farmácias para lojas especializadas e caírem nas graças de um público mais variado.

COMOÇÃO -  com beijo gay na Bienal do Rio 2019: fúria moralista -
COMOÇÃO -  com beijo gay na Bienal do Rio 2019: fúria moralista – (Marvel/.)

A DC Comics, do Super-Homem e do Batman, igualmente planeja para junho, o mês do orgulho LGBT, o lançamento da DC Pride, uma coletânea escrita e desenhada por simpatizantes e integrantes da comunidade LGBT. Nela fará sua estreia como protagonista a super-heroína trans Dreamer, em uma história escrita por outra trans, a atriz Nicole Maines — uma incomum transposição para a revista impressa de um personagem saído da TV e interpretado pela própria Nicole em papel de apoio na série Supergirl. Faz parte da coleção DC Pride nove capas artísticas com referências LGBT, tenha ou não o herói envolvido alguma relação com a comunidade. Na lista contam, entre outros, Super-Homem e Mulher-Maravilha, que não têm, o Asa Noturna, que pode ter mas não assume, e Hera Venenosa e Arlequina, que já viveram um romance.

Continua após a publicidade

Embora a reação do público ao novo capitão tenha sido majoritariamente positiva, houve os previsíveis protestos em redes sociais e canais da internet. A rede conservadora Newsmax, que sonha em se tornar a nova porta-voz dos trumpistas americanos, em segmento sobre os novos quadrinhos lançou a pergunta “Onde o mundo foi parar?”, concluindo que os Estados Unidos estão “ficando malucos”. Para essa ala, é mais fácil aceitar comprovações enviesadas e absurdas de que a Terra é plana e de que a cloroquina funciona do que um herói gay. A torcida é para que o Capitão América consiga abrir os olhos para a bonita diversidade de nosso tempo.

Publicado em VEJA de 7 de abril de 2021, edição nº 2732

Publicidade

Matéria exclusiva para s. Faça seu

Este usuário não possui direito de o neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo 3n1yv

o ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo 1k27o

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*o ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.