“Tudo que é clássico terá lugar no futuro”, diz herdeiro de Pierre Cardin 303a3f
Rodrigo Basilicati-Cardin, sobrinho do estilista, fala do legado e dos desafios da marca que é sinônimo de elegância em tempos de imensa diversidade 4q5f1y

Como foram os últimos tempos ao lado de seu tio, Pierre Cardin? No início da pandemia, ele já estava com 97 anos, e o fato de ficar preso dentro de casa fez com que envelhecesse muito depressa. Eu fazia a ponte entre ele e os funcionários, e tentávamos não deixá-lo com tanto medo da Covid-19.
O que mudou depois da morte dele, em 2020? Foi um período que coincidiu com a desaceleração imposta pela crise sanitária. Mas não a sentimos tanto. As pessoas foram forçadas a usar mais as tecnologias digitais, mas isso não foi totalmente ruim. Não acredito que elas sejam capazes de substituir a interação com o mundo real, e a moda é um dos marcos desse mundo. Cuido das redes sociais da empresa. Temos ainda poucos seguidores, mas são aqueles apaixonados pela marca. Prefiro continuar assim, com um crescimento orgânico. Porque, a rigor, o mais importante é sempre mostrar a verdade.
A moda mostra a verdade? Ela pode ser considerada supérflua, mas gira a economia e cria empregos. É a segunda indústria mais importante do mundo, depois do entretenimento. Se você der uma volta em qualquer lugar e eliminar tudo o que tem a ver com a moda, não sobrará nada. Pense em um homem nu em uma sala branca: ele vai comunicar pouca coisa sobre ele. Agora pense em um homem vestido: pela sua roupa podemos saber sua posição social, seu trabalho, de onde veio… A moda diz muito.
As mudanças comportamentais dos últimos anos impam imensa diversidade também à moda. Como a Pierre Cardin lida com esse movimento? A gente não tem e nunca teve problema com essa questão, porque, na visão da Pierre Cardin, não importa o formato do corpo, é a roupa que dá forma à pessoa. Isso era o que diferenciava os desenhos do meu tio, feitos como esculturas. Continuamos não nos agarrando a padrões duros. A diversidade é bem-vinda, e tudo o que é clássico terá um lugar no futuro.
Como enxerga as denúncias de assédio e trabalho escravo na indústria? Sei que esse tipo de situação acontece, e presto atenção quando vou escolher um fornecedor. Faço questão de visitar pessoalmente as fábricas para me certificar das condições de trabalho. Fico surpreso que essas coisas ainda ocorram, e temos de fazer algo a respeito. Para isso, a comunicação é fundamental. E a moda também é comunicação.
Publicado em VEJA de 5 de Julho de 2023, edição nº 2848