‘A indústria farmacêutica quer que você fique doente’, diz médica 604tw
Cristiane Morandim, ginecologista com pós-graduação em saúde integrativa, explica seu posicionamento e conta trajetória após doença autoimune 136b5i

Ao receber o diagnóstico de uma doença autoimune e a notícia de que estava com expectativa de vida limitada em meio a sua segunda gestação, a ginecologista Cristiane Morandim, hoje com 46 anos, usou sua experiência pessoal e profissional para desenvolver um método de tratamento que foca em quatro pilares: Sono, Exercício físico, Estresse e Intestino. Pós-graduada em nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia; em Bases da Saúde Integrativa e Bem-Estar pelo instituto de ensino Albert Einstein; e em Medicina Funcional Integrativa pela Academia Brasileira de Saúde Funcional Integrativa, Cristiane estabilizou sua condição coma prática que desenvolveu, após quase ter atrofiados os músculos dos dedos. Uma das palestrantes do Desert Women Summit 2025, a médica conversou com a coluna GENTE sobre sua batalha particular – que originou até uma igreja no interior de São Paulo.
DOENÇA AUTOIMUNE. “Estava grávida de quatro meses, tinha 32 anos, quando descobri uma esclerose sistêmica. É uma doença autoimune, que começa a produzir colágeno em excesso nos órgãos. No esôfago, no pulmão, nos rins… É uma doença rara, e em mim era de caráter bem progressivo, afeta 1 a cada 150 mil pessoas. Afeta mais mulheres que homens na faixa de 30 a 40 anos. Como estava grávida de quatro meses, o tratamento para tratar a doença acabaria levando à interrupção da gestação. Acabei não interrompendo, e tive uma piora do quadro”.
ENFRENTANDO A DOENÇA. “Fiz 12 sessões de quimioterapia experimental, no (hospital) Sírio-Libanês, tomando corticoide, fiquei inchada, cheguei a ter picos de pressão alta. Aí foi indicado um transplante de medula, fora do país, mas não era nada de certeza. Antes de optar por isso, tive uma virada de chave, no sentido de ar a me priorizar, a olhar para mim. Apesar de tudo que estava enfrentando, entendi que uma boa parte dessa coisa de autoimunidade também dependia da maneira como eu enfrentava a doença. Foi quando comecei a melhorar, só que ainda assim me vi tomando muitos remédios, mais imunossupressores, mais corticoide, não fui ao transplante…”.
FENÔMENO DE RAYNAUD. “Na época da doença minha mão ficou como garras por uma semana, me deu falta de ar, fibrose pulmonar. Continuei clinicando, mas cesárea não dava mais, porque minha mão, que era o meu instrumento de trabalho, além de estar cheia de úlcera, por conta do fenômeno de Raynaud, ficava roxa na ponta dos dedos. Não existe cura para a doença, só se controla”.
PILARES DE SAÚDE. “Foi aí que comecei a focar. Eu já tinha uma doença autoimune, a tiroide de Hashimoto, e desenvolvi mais uma. Comecei a estudar, porque tinha gente que tinha três, quatro doenças do mesmo tipo. Ao estudar a saúde integrativa, ei a pensar que aquilo era o descontrole do meu corpo. Então comecei a estudar intestino, vitaminas, antioxidantes, alimentação. E aí fiz o meu método, que se chama o ‘método SEEI, uma abordagem dos pilares de saúde: sono, estresse, exercício e intestino. A doença autoimune começa muito no intestino. Na maioria das pessoas, começa muito tempo antes, desde criança, com uma intolerância alimentar, distensão abdominal e a batido, entende?”
SEGUNDO CÉREBRO. “É no intestino que ocorre um negócio chamado aumento da permeabilidade intestinal. Tem essas intolerâncias e aí você não trata. Muitos tratam como ‘ah, é o intestino irritável’, a chamada síndrome do intestino irritado. Imagina uma peneira cheia de furinho. Esses alimentos para os quais a pessoa é intolerante, é como se provocassem uma inflamação nesses furinhos, até que a peneira abre. É quando começa a autoprodução de anticorpos. Então comecei a tratar meu intestino, comecei a usar vitamina D”.
NOVAS PRÁTICAS. “Parei na época com glúten e leite, que era altamente inflamatório pra mim. Carne não. Bebida alcoólica, cortei para dar uma melhorada, agora tomo vinho de vez em quando. Não é algo radical. Açúcar, ultraprocessados, cortei tudo. Era sedentária, comecei a praticar exercício físico, mudei a minha mente, era muito estressada, não tinha tempo para mim. Falo que o médico tem tempo para os outros, mas não para ele mesmo. Hoje faço exercícios quatro vezes por semana. E uma vez por mês vou a Santos remar, faço canoa havaiana”.
COMO DIZ O POETA. “Ouvi uma frase de Fernando Pessoa, que a gente não é o tamanho que nos medem, mas sim o tamanho que a gente se enxerga. É isso que quero deixar, que a pessoa volte o olhar para ela, se priorize. Você só consegue se priorizar e colocar em prática os pilares de saúde quando se coloca em primeiro lugar. E para ser boa mãe, boa empresária, boa médica, boa mulher, qualquer coisa, tem que estar bem em primeiro lugar”.
IGREJA PARA DOENÇAS RARAS. “Hoje moro no interior de São Paulo, em Vargem Grande do Sul. Ergui uma igreja linda no sítio, que chama Igreja Padre Donizete. A gente abre a população duas vezes por mês. Dediquei às causas autoimunes, às doenças raras. É a primeira igreja chamada Padre Donizete no Brasil., e sou a primeira proprietária de uma igreja para pessoas autoimunes no país. Elas vão lá porque têm fé. A gente abriu a propriedade, e virou uma coisa para ajudar mesmo. Por isso falo sobre espiritualidade nas consultas, porque tem tudo a ver com o método de abordagem integrativa”.
PREVENÇÃO E PRÁTICAS SAUDÁVEIS. “Práticas saudáveis podem reduzir incidências de doenças. Precisamos adotar um sistema de saúde e não de doença. Para isso, é preciso uma conscientização do quanto é importante o cuidado com a saúde. É muito mais barato para qualquer sistema investir na prevenção do que no tratamento, uma vez que a doença já está instalada. A saúde integrativa visa a integrar essas práticas no cotidiano e a ser uma aliada durante todo o processo de um tratamento, levando em muitos casos a redução do uso de medicamentos – como foi meu caso. A indústria farmacêutica quer que você fique doente, pois existe todo um ecossistema por trás; porém, cabe a nós vencermos essa luta contra as doenças e assumirmos um novo comprometimento com a nossa saúde”.