Trump não deveria estragar bons resultados aceitando avião de presente 5d621f
Com vários motivos para comemorar, o presidente americano contraria a essência dos princípios conservadores ao defender mimo milionário do Catar 5c3v5t

Não existe almoço grátis – e muito menos um Boeing 747-8 reconfigurado pelo Catar para ser um exibicionista “palácio voador”. Donald Trump sabe muito bem disso, mas insiste em aceitar o “presente, SEM CUSTO” oferecido pelo ambíguo emirado petrolífero para substituir o Air Force One.
É uma bobagem tremenda que dificilmente irá adiante. Também dá aos adversários democratas uma oportunidade de ouro – sem trocadilho com os acabamentos do luxuoso avião de 400 milhões de dólares – de se regozijar com o erro cometido pelo presidente.
“Nada ilustra América em Primeiro Lugar como um Air Force One oferecido pelo Catar”, ironizou o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer. Outros fizeram fila para aproveitar a oportunidade. Para piorar, o avião seria doado à biblioteca Trump depois de terminado seu mandato. Ou seja, continuaria a seu serviço. Lembre-se que Trump já tem seu próprio Boeing, talvez eclipsado pelas cinco salas e onze banheiros do “palácio voador”.
Se parece ruim é porque é mesmo. Além de criar “todo tipo de conflito de interesses” e desafiar o artigo da constituição americana, chamado de Cláusula de Emolumentos, que proíbe presentes de elementos estrangeiros, segundo lembrou o New York Post – e todos os demais meios de comunicação, com a diferença que o Post geralmente apoia Trump.
ALIADO NADA CONFIÁVEL a1564
O jornal também enumerou outras áreas de excessiva proximidade do Catar com o mundo Trump. Eric Trump vai tocar um projeto no emirado, com campo de golfe e mansões, no valor de cinco bilhões de dólares.
O Catar é famoso por fazer jogo duplo, triplo ou quádruplo, conseguindo abrigar, ao mesmo tempo, bases americanas e representantes do Hamas. Isso o torna um interlocutor obrigatório, mas, de jeito nenhum, um bom e confiável aliado dos Estados Unidos.
O Post fez uma pesquisa com seus leitores e 78% foram contra o inconveniente, se não ilegal, presente.
Influenciadores importantes de direita, como Ben Shapiro e Mark Levin, criticaram a história do avião em termos veementes. O caso levou a revelações interessantes, como o de que Pam Bondi, em posto equivalente ao de ministra da Justiça, já foi lobista do Catar.
A pisada de bola acontece justamente num momento em que Trump tem uma série de bons resultados para mostrar: a bolsa explodiu com a possibilidade de um entendimento comercial com a China, a iinflação desafiou todas as previsões e caiu, preços de vários produtos de grande consumo continuaram a tendência de queda, o único refém americano vivo foi libertado pelo Hamas, Índia e Paquistão não se incineraram num conflito nuclear após interferência dos Estados Unidos.
QUEIMANDO O FILME 6j6p3a
Há ainda a expectativa de que sua visita à Arábia Saudita – com escala, claro, no Catar – projete um grande acordo para encaminhar uma solução ao conflito de Israel e palestinos, por mais espinhoso que seja o problema.
Continua a haver, obviamente, muitíssimas questões em aberto, da Ucrânia a Gaza, mas o momento é positivo. Trump sabe muito bem que precisa virar a tendência de queda de popularidade (45,8% de aprovação e 50,1% de desaprovação, segundo a média do RealClear). Está fazendo birra por causa da demora na nova versão do Air Force One (na verdade, dois aparelhos dotados de confortos e, acima de tudo, tecnologia para transportar o presidente até no caso de um conflito nuclear)?
Presidentes, nem mesmo um tão fora da curva como Trump, não devem fazer pirraça. Muitos jornalistas a favor do governo – e pode ser em qualquer país – dizem, quando seus prediletos fazem besteiras, que estão “dando munição à oposição”. É uma forma pueril de evitar a crítica direta e, de certa maneira, empurrar a culpa para os adversários políticos que ousam explorar um erro dos detentores do poder.
Pois além de dar munição aos opositores, Trump está simplesmente queimando seu filme por um motivo totalmente fútil. Além de ser honestos, líderes políticos também precisam, obviamente, parecer honestos e isso vale para qualquer tendência política, mas tem um lugar especial entre os princípios conservadores mais elevados.