Pepe Mujica e a lição mais forte para os políticos de esquerda 5v4333
Cortejo nesta quarta, 14, carrega simbolismo especial para os líderes que dizem trabalhar para os mais pobres e necessitados k2z3e

José Alberto Mujica Cordano é muito mais que um estadista que toda a esquerda mundial deveria ter como exemplo. O político uruguaio é um herói dos valores democráticos e da resistência contra ditaduras latino-americanas. Morreu nesta terça, 13, como viveu: de forma simples.
Pepe ou 12 anos preso, a maior parte deste tempo em isolamento, o que deu a ele duas características muito fortes: uma saúde mental incomum e a certeza de que o dom da vida é algo mágico, precioso – e que precisa ser aproveitado intensamente.
Por isso, dizem os aliados, após a dor profunda do encarceramento por perseguição política de um regime antidemocrático, conseguiu fazer um governo sem ódio, sem ressentimento com a oposição.
Essa é a síntese de um estadista. Um estadista que merece essa palavra como poucos.
Perseguido politicamente, não perseguiu ao chegar ao poder. Acolheu. Governou com sabedoria e sem limitações partidárias e fez disso o seu maior ativo político para construção de políticas públicas eficientes em diferentes áreas.
Um dos seus colegas de governo, Mauricio Rosencof, no livro “As cartas que não chegaram”, conta um pouco da expressão de amor de Pepe. Presos juntos, Mauricio foi ministro da Cultura de Mujica.
“Há muitas pessoas loucas com armas atômicas. Muito fanatismo. Deveríamos estar construindo moinhos de vento. No entanto, gastamos em armas. Que animal complicado é o homem. Ele é inteligente e estúpido”, disse Pepe em uma entrevista dias após encontrar o amigo.
O ex-presidente optou por uma vida absolutamente simples, com um pequeno sítio, onde planta o que come. Se alguém batesse na porta de sua casa ele provavelmente a abriria e ofereceria comida.
Ninguém – nenhum outro político de esquerda com discursos progressistas e votos de servir a população carente – fez isso. Pepe é inédito, não fez nenhuma questão de pompas e circunstâncias.
O cortejo fúnebre de Pepe nesta quarta, 14, pelas ruas de Montevidéu, homenagem merecida mas que não combina com ele pela sofisticação, deveria servir de sinal e aviso que, ao fim, todos saberão se o discurso político da esquerda será respeitado na prática.
Pepe será.