A batalha do governo Lula para jogar a crise do INSS para Bolsonaro 405a1e
Governistas pregam que o esquema começou em 2019, mas omitem que o esquema cresceu nos últimos anos e que a atual gestão foi alertada desde 2023 604t4p

Desde que o escândalo de corrupção do INSS — que aponta para desvios indevidos de mais de 6 bilhões de reais dos aposentados — veio à tona, interlocutores do governo Lula se esforçam para tentar jogar a responsabilidade sobre o caso para o governo anterior, de Jair Bolsonaro.
O argumento dos governistas é baseado no período em que a Polícia Federal detectou os descontos indevidos dos recursos de aposentados e pensionistas: de 2019 a 2024. Ou seja, com início no primeiro ano do governo Bolsonaro e durando até, pelo menos, o final do segundo ano do governo Lula.
No sábado, 10, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, fez várias publicações nas redes sociais nesse sentido, inclusive com um vídeo no qual aparece criticando o governo Bolsonaro e jogando sobre ele a responsabilidade pelo escândalo de corrupção.
“Precisamos falar com seriedade sobre o desmantelamento da rede de proteção social promovido pelo governo anterior. Isso, sim, não tem explicação! O desmonte do INSS e da Dataprev não foi acaso nem descuido: foi um projeto consciente que atingiu diretamente os mais pobres e vulneráveis: dinheiro tirado de idosos!”, escreveu Messias.
“O governo do presidente Lula está reconstruindo o INSS, combatendo fraudes, investindo em tecnologia, servidores e atendimento digno. Cuidar das pessoas é prioridade, e responsabilizar os bandidos, uma obrigação”, finalizou.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, republicou as mensagens de Messias e também fez suas contribuições retóricas para “desmascarar as mentiras que a oposição bolsonarista está espalhando nas redes”.
“Foi no governo Bolsonaro que quadrilhas criaram entidades fantasmas para roubar os aposentados, sem que nada fosse feito para investigá-las ou coibir sua ação no INSS. A maior parte das associações investigadas ou a atuar no governo Bolsonaro (…). Foi apenas no governo Lula que a Polícia Federal e a CGU enfrentaram as quadrilhas e as entregaram à Justiça”, escreveu a ministra.
Assim como eles, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) também tem repetido uma frase que vem sendo usada quase como lema do governo: a fraude não começou neste governo, mas vai terminar nele. Em entrevista coletiva, na sexta-feira, 9, ele adotou o discurso abertamente. “Isso não começou agora. Começou lá atrás, mas vai terminar agora. Já foi totalmente suspenso, não tem mais nenhum desconto [indevido]. Aliás, no próximo pagamento de aposentados e pensionistas, vão ser devolvidos R$ 298 milhões”, disse.
Esquema cresceu sob Lula 65t48
No entanto, os interlocutores do governo petista ignoram que, apesar de o escândalo ter começado no governo Bolsonaro e durado toda a gestão sem que fosse investigado ou barrado, os descontos indevidos tiveram aumentos significativos nos últimos dois anos, já sob a atual gestão.
Outro ponto é que o então ministro da Previdência nomeado por Lula, Carlos Lupi, foi alertado já em 2023 de que havia denúncias de descontos irregulares e agiu com lentidão ou omissão.
Além disso, o novo ministro da pasta, Wolney Queiroz Maciel, foi um dos apoiadores da medida provisória que cancelou a necessidade de renovação anual da autorização de descontos. A MP foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada por Bolsonaro.
Mais um ponto que vem sendo destacado pela oposição para criticar o governo e que os interlocutores não têm falado sobre é o fato de um dos irmãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, ser vice-presidente de uma das instituições envolvida nos desvios indevidos.
Desde agosto de 2024, Frei Chico é a vice-liderança do Sindicato Nacional dos Aposentados Pensionistas e Idosos (Sindnapi).