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Desfecho da crise dos Correios é previsível: outra vez, quem vai pagar é a sociedade 3v2t3s

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 Maio 2025, 14h34 - Publicado em 16 Maio 2025, 06h00

Depois de 362 anos de monopólio, os Correios perderam o fôlego. Já nem conseguem cumprir o antigo compromisso de entregar em até 72 horas documentos despachados pelo serviço expresso na região Sudeste.

A empresa continua cobrando 40 reais para transportar uma folha de papel até um endereço a 800 quilômetros de distância da Avenida Paulista. O prazo, porém, mudou. O tempo agora é incerto como bilhete de loteria: um envelope Sedex de 50 gramas pode demorar três, dez, quinze dias ou mais para chegar ao destino.

Assiste-se ao derretimento de uma corporação estatal singular pela longevidade e, também, pela presença em 5 570 municípios, o que dá dimensão nacional à crise.

Os Correios faturam 20 bilhões de reais por ano, mas gastam 24 bilhões para manter as portas abertas de segunda a sexta-feira — aumento de 8% nas despesas no ano ado. Acumulam dívidas ainda imprecisas nos balanços contábeis, infladas em parte por corrupção e agravadas por má gestão.

O uso e abuso político de empresas públicas e seus fundos de pensão se tornou uma fonte de negócios para dirigentes de partidos e operadores financeiros, nas últimas três décadas, invariavelmente com altas taxas de lucratividade.

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Os Correios são caso exemplar das sequelas deixadas numa empresa estatal pelo loteamento político por longo período para usufruto no espectro partidário — do PT de Lula ao PL de Jair Bolsonaro, entre outros.

Na época das investigações sobre o mensalão, no primeiro governo Lula, a empresa chegou a ter 525 categorias de irregularidades auditadas em dois terços de seus contratos comerciais, todas classificadas como graves e de alto risco para os cofres públicos.

Na década ada, delinquências em série levaram o fundo de pensão Postalis à quebra, com perdas bilionárias e irreversíveis para a estatal e seus empregados.

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“Desfecho da crise dos Correios é previsível: outra vez, quem vai pagar é a sociedade”

Aos abalos financeiros somou-se o declínio no mercado. A empresa era responsável por quase metade dos serviços postais no país em 2019 e hoje domina menos de um terço do mercado de entregas do tipo Sedex. O despacho expresso de encomendas e documentos é o “filé” do setor e, até agora, permitia à empresa pública financiar uma rede de 10 000 agências, das quais apenas 1 500 não dão prejuízo.

A decadência empresarial acabou acelerada pela imobilidade do governo e do Congresso, que não conseguem chegar a uma conclusão sobre o que é melhor para o país: reconstruir a estatal ou simplesmente se livrar dos Correios.

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O debate é rarefeito e, quando ocorre, acaba aprisionado na esgrima retórica sobre estatização ou privatização. Por conveniência política, a discussão fica distanciada de aspectos relevantes da vida da empresa e sua relação com os clientes. Por exemplo, os Correios não sabem, porque não têm controle, quanta encomenda ou correspondência efetivamente entregam em casa ou guardam em depósito até que o destinatário retire. Não há preocupação com eficiência e qualidade na prestação de serviços postais ao público pagante.

Em contrapartida, interesses corporativos e sindicais prevalecem. Raras são as empresas que sobrevivem a uma greve por ano durante uma década e meia. Os Correios conseguiram e seguem existindo apenas porque pertencem ao Estado brasileiro. A rotina do grevismo numa das maiores empregadoras do país virou meio de vida para uma parte da burocracia que governa quatro dezenas de organizações sindicais.

A conta chegou. O primeiro trimestre foi pontuado por intermitências nos pagamentos do plano de saúde, em aluguéis de imóveis em alguns estados e nos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Na semana ada as transportadoras terceirizadas suspenderam serviços depois de três meses sem receber. Então, os Correios se declararam à beira do abismo. Anunciaram cortes salariais, redução da jornada de trabalho, incentivo a demissões voluntárias e suspensão do pagamento de férias.

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A reação dos sindicalistas foi inusitada. Antes de procurar a empresa para negociação, uma federação setorial e seus 31 sindicatos filiados pediu uma audiência a Lula, no Palácio do Planalto, e divulgou uma carta com advertências ao governo: “Não aceitaremos retrocessos ou retirada de direitos, elegemos este governo com a esperança de reconstruir tudo o que foi desmontado”.

É uma nova crise na velha empresa estatal com o desfecho previsível de sempre: vai sobrar mais uma conta para a sociedade.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 16 de maio de 2025, edição nº 2944

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