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País órfão 3nh11

As prioridades mais urgentes dependem da educação de base 6h2c2o

Por Cristovam Buarque Atualizado em 7 fev 2025, 14h44 - Publicado em 7 fev 2025, 06h00

A educação é órfã da República, tanto quanto foi do Império. Independentemente do partido e da ideologia dos dirigentes em cada momento, o ensino de qualidade para todos nunca foi tratado como vetor de nosso progresso. Não tivemos presidente educacionista que implantasse um sistema com qualidade e equidade para cada criança brasileira desde seu nascimento. Nestes quarenta anos de democracia, tivemos nove eleições presidenciais, mas o número de adultos analfabetos plenos continua praticamente o mesmo, acima de 10 milhões. O número de escolas, de vagas e o dinheiro aplicado cresceram, mas não melhoramos nossa posição como um dos países com pior qualidade na educação e provavelmente aquele com maior desigualdade conforme a renda da família.

Sem reforma ambiciosa de nosso atual sistema educacional, dos 2,5 milhões de brasileiros que nasceram em 2024, no máximo 500 000 concluirão a educação de base, em 2042, medianamente alfabetizados para o mundo contemporâneo, com o mapa para buscar sua felicidade pessoal e as ferramentas necessárias para construir o país que desejamos. Portanto, 2 milhões ficarão para trás.

Os políticos de direita consideram que educação deve ser tarefa das famílias conforme a renda de que dispõem; os de esquerda consideram que não há necessidade de reformas, bastariam mais investimentos e atender às reivindicações dos sindicatos de professores, sem preocupação direta com os alunos, com a qualidade e, ainda menos, com a equidade. Com essas lógicas, a direita reduz gastos e a esquerda investe sem compromisso com os resultados, chegando a apoiar greves em escolas estatais, o que reduz a pouca qualidade e amplia a desigualdade em relação às escolas privadas, imunes a paralisações.

“Em quarenta anos de democracia, o número de analfabetos continua o mesmo”

A orfandade da educação está também na submissão da lógica assistencial, ao transformar o Bolsa-Escola em Bolsa Família, a Poupança Escola em Pé-de-Meia, o programa de Certificação Federal dos Professores Municipais no programa Pé-de-Meia do Professor. O apoio à promoção automática mesmo sem aprendizado em escolas que atendem alunos de famílias pobres também é prova da orfandade da educação em nome do assistencialismo social, aceitando que a educação de base deve ser desigual conforme a renda da criança.

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As pesquisas mostram que a educação é, ainda, órfã da opinião pública, razão pela qual a busca de qualidade é relegada entre as prioridades dos eleitores, e a ideia de equidade nem ao menos é considerada como propósito nacional. Os líderes não mostram que as prioridades mais urgentes — segurança, emprego, pobreza, sustentabilidade, distribuição de renda — dependem da educação de base com qualidade para todos.

O ensino superior trata a educação de base como mero degrau para a universidade, como se fosse um mal necessário, daí a promessa de “universidade para todos” sem um programa “todos os brasileiros alfabetizados”, ainda menos “todos alfabetizados para a contemporaneidade”.

Por ser a principal causa de quase todos os nossos problemas, atalho para a pobreza, a orfandade da educação condena o país ao declínio: ao deixar nossas crianças com a educação sem pai nem mãe no presente, o Brasil pavimenta um triste futuro, porque se deve enxergar o amanhã pela cara da escola de hoje.

Publicado em VEJA de 7 de fevereiro de 2025, edição nº 2930

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