
Por muitas décadas, as atividades aeróbicas foram vistas como a representação máxima de saúde, em termos de exercício físico. Fosse a natação, considerada o exercício completo, o “jogging”, que entrou na moda entre os anos 1970 e 1980, os vídeos de ginástica ou a febre dos equipamentos domésticos, como bicicletas ergométricas, o importante era garantir todos os dias a cota de movimento.
A indústria cultural incorporou essa noção. Pense no cinema. Quantos filmes têm alguma cena em que um personagem usa a corrida, na rua ou em uma esteira de academia, para elaborar um plano ou encontrar equilíbrio diante de algum problema?
Por outro lado, levantar peso era visto como um “algo a mais”, uma atividade com objetivo específico. Aumentar a massa muscular significava uma preparação especial para um desafio maior: ganhar resistência para uma situação específica, vencer o vilão no braço ou, simplesmente, atender a um apelo de transformação estética.
Eu disse “era”.
Se você vai à academia e tem a impressão de que a área de “cárdio” está mais vazia, enquanto a de halteres tem estado mais lotada, saiba que os dados amparam sua percepção. Uma pesquisa global da maior instituição de medicina esportiva e estudos sobre exercícios no mundo, o American College of Sports Medicine, mostra que o treinamento de força tradicional está entre as principais tendências do setor neste ano.
Mas não é de hoje que essa realidade vem se construindo. A boa e velha musculação deixou de ser o exercício do “fortão” preocupado somente em esculpir o corpo, e se tornou uma recomendação médica. Somos mais longevos, e os músculos são a base sólida para viver melhor os anos a mais que outras melhorias de vida nos deram. (Não por acaso, ainda segundo o estudo da ACSM, o condicionamento físico para idosos é outra linha que vem se destacando.
Com o ar dos anos, perdemos massa muscular, e treinos de força são a melhor forma para combater esse fato natural. Além disso, um corpo forte significa mais autonomia. E aí vale especial atenção aos membros inferiores: “treinar perna” não é só fundamental para o equilíbrio, mas para o bom funcionamento do sistema circulatório – as panturrilhas ajudam a bombear o sangue, sendo chamadas até de “segundo coração”.
Além do aumento da longevidade, outro aspecto contemporâneo contribui para essa preferência aumentada pelos treinos de força: o fenômeno das canetas emagrecedoras. É que, junto dos quilos extras, muitas vezes elas levam embora também uma parte da massa magra.
Aliás, também para perder peso… levante peso! Aumentar a massa muscular faz o corpo gastar mais energia quando está em repouso. Além disso, os exercícios com resistência ajudam a modular hormônios ligados à saciedade e à composição corporal.
Nenhum desses argumentos, contudo, indica que sua ergométrica só sirva como cabide de roupa ou que a esteira deva ficar melancolicamente esquecida numa varanda. Exercícios aeróbicos continuam essenciais para a saúde cardiovascular, a regulação do humor, o condicionamento cardiorrespiratório e a resistência em atividades cotidianas. A chave continua a ser se mexer – mas em intensidade e formas variadas.