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Niède Guidon: a arqueóloga que reescreveu a história da ocupação das Américas 5g1qk

Além disso, a cientista deixou como legado um trabalho social que transformou uma das regiões mais pobres do Brasil 4l66r

Por Redação Atualizado em 4 jun 2025, 16h58 - Publicado em 4 jun 2025, 11h09

A arqueóloga Niède Guidon, morta aos 92 anos, deixou um legado que transcende a ciência: suas descobertas no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, desafiaram teorias consolidadas sobre a ocupação das Américas, enquanto seu trabalho social transformou uma das regiões mais pobres do Brasil. Reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, o parque deve sua existência à persistência de Guidon, que dedicou seis décadas à pesquisa e à preservação do local.

Nascida em Jaú, no interior de São Paulo, Guidon teve seu primeiro contato com a região de São Raimundo Nonato em 1963, ao se deparar com fotos de pinturas rupestres no Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP). Após se exilar na França e se especializar em Arqueologia Pré-histórica na Sorbonne, retornou ao Brasil em 1973 liderando uma missão franco-brasileira que identificou 55 sítios arqueológicos. Financiada pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), a expedição foi o pontapé inicial para uma das maiores revoluções na pré-história das Américas.

Em 1979, o Parque Nacional Serra da Capivara foi criado e, em 1991, conquistou o título da Unesco. Sob a liderança de Guidon, mais de 800 sítios e 35 mil pinturas rupestres foram catalogados. Mas foi no sítio da Pedra Furada que sua pesquisa abalou a arqueologia tradicional: enquanto a Teoria de Clóvis defendia que os primeiros humanos chegaram às Américas há 12 mil anos pelo Estreito de Bering, suas escavações revelaram ferramentas de pedra e vestígios de fogueiras datados em 32 mil anos – e, em algumas interpretações, até 100 mil anos.

A hipótese de Guidon, inicialmente recebida com ceticismo, ganhou força em 2006, quando o especialista francês Eric Boëda confirmou a autenticidade dos artefatos. Sua teoria de que os primeiros habitantes poderiam ter vindo diretamente da África pelo Atlântico ainda divide especialistas, mas já redefiniu o debate sobre o povoamento do continente.

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Arqueóloga Niéde Guidon, presidente da FUNDHAM e diretora do Parque Nacional da Serra da Capivara. (Pablo de Sousa/Dedoc)
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O legado social 6c6j1m

Além da ciência, Guidon transformou São Raimundo Nonato. Em 1986, criou a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), que não só preserva o parque, mas também impulsionou educação e economia local. Sob sua gestão, surgiram escolas, postos de saúde e até uma fábrica de cerâmica que hoje exporta peças e tem linha exclusiva em uma conhecida loja de móveis.

Moradores foram capacitados como guias e “guardiões” do parque, e crianças receberam ensino integral com aulas de português, matemática e artes – um modelo pioneiro para a região. Guidon também travou uma batalha política pela construção do aeroporto local, essencial para o turismo.

À frente do seu tempo 175816

Num campo dominado por homens, Guidon enfrentou ameaças, resistência política e dramas pessoais sem abandonar sua missão. Sua trajetória inspirou gerações de pesquisadoras e mostrou que a ciência pode ser um agente de mudança social.

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Hoje, o Serra da Capivara é referência em conservação e desenvolvimento sustentável. O legado de Niède Guidon está gravado não apenas nas rochas do Piauí, mas na vida de quem viu sua realidade ser transformada por uma mulher que ousou desafiar a história – e reescrevê-la.

“Foi uma pioneira obstinada”, disse Alamo Saraiva, professor do curso de Ciências Biológicas e coordenador do Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca). “Sem dúvida era era a mãe da arqueología moderna brasileira. Deixará uma lacuna na pesquisa e conservação do nosso patrimônio pretérito.”

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