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A corrida do hidrogênio verde trás janela de oportunidade para o Brasil 45z58

Com vantagens naturais para liderar a produção global do gás, país precisa superar desafios regulatórios e econômicos para aproveitar as oportunidades 1b5r2o

Por Ernesto Yoshida Atualizado em 8 nov 2024, 08h10 - Publicado em 8 nov 2024, 06h00

O Brasil está diante de uma janela de oportunidade para se tornar um dos principais produtores mundiais de hidrogênio verde — um combustível limpo que tem ganhado destaque nos debates sobre transição energética. A abundância de recursos naturais, como sol, vento e água, aliada a uma matriz energética já predominantemente renovável, representa uma vantagem competitiva importante para o país. E o momento é propício em razão da busca global por alternativas energéticas mais sustentáveis.

O hidrogênio verde é obtido por meio da eletrólise da água — um processo que usa a eletricidade para separar as moléculas de água em hidrogênio e oxigênio. O hidrogênio é considerado “verde” quando a corrente elétrica utilizada provém de fontes renováveis, como solar e eólica. Esse método não gera emissões de carbono, diferentemente de outras formas de produção de hidrogênio que usam combustíveis fósseis, como o gás natural.

Um entrave para a produção do hidrogênio verde em larga escala é o custo da eletricidade. “Embora ambientalmente vantajoso, o hidrogênio verde ainda é caro devido à falta de escala”, disse Paulo Alvarenga, presidente do grupo industrial alemão thyssenkrupp para a América do Sul, durante o VEJA Fórum — Oportunidades do Brasil na Transição para a Energia Verde, realizado por VEJA e VEJA NEGÓCIOS. “O setor vive um dilema: não tem competitividade por falta de escala e não tem escala porque a cadeia dos combustíveis fósseis é muito grande e concorrida.”

Eletrolisadores

Apesar dos obstáculos, não faltam interessados em produzir o combustível verde no Brasil. O governo afirma ter 27 gigawatts — potência de quase duas usinas de Itaipu — em projetos de hidrogênio protocolados no Ministério de Minas e Energia, o que representa 200 bilhões de reais em investimentos. Para destravar os planos, o presidente Lula sancionou em agosto a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono. O marco legal prevê 18 bilhões de reais em incentivos fiscais, durante cinco anos, para descarbonizar a indústria e os transportes. “A legislação é bem-vinda, mas ainda falta a regulamentação. Sem isso, não há como tirar projetos do papel”, afirmou Alvarenga. Segundo ele, países como Alemanha, Canadá e Suécia avançaram na regulamentação do setor, colocando-se à frente do Brasil.

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Sem uma regulamentação, as empresas enfrentam insegurança jurídica. É o caso da White Martins, fabricante de gases industriais que produz em Pernambuco o primeiro hidrogênio verde certificado na América do Sul — certificar significa atestar que o gás foi obtido com energias renováveis. “Contratamos uma certificadora alemã que consideramos adequada, mas nada garante que o padrão adotado por ela será aceito no futuro”, disse Gilney Bastos, presidente da White Martins e da Linde na América Latina Sul.

O Brasil tem potencial para se tornar um exportador de hidrogênio verde, mas há desafios de logística, uma vez que o gás precisa ser comprimido ou liquefeito para o transporte. Outra possibilidade é exportar produtos industriais que utilizam o hidrogênio verde em seu processo de fabricação, como aço e fertilizantes. Isso agregaria valor aos produtos e atenderia à demanda crescente por soluções sustentáveis no mundo.

EM ALTA - Debate entre (a partir da dir.) Alvarenga, da thyssenkrupp, Ludmila Nascimento, da Vale, e Bastos, da White Martins. Mediação: Caetano, de VEJA
EM ALTA - Debate entre (a partir da dir.) Alvarenga, da thyssenkrupp, Ludmila Nascimento, da Vale, e Bastos, da White Martins. Mediação: Caetano, de VEJA (Flávio Santana/.)
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Atenta a esse mercado, a mineradora Vale estuda a implantação dos chamados mega-hubs — complexos industriais para fabricação de produtos siderúrgicos de baixo carbono. A ideia é produzir aglomerados de minério de ferro, que servirão de insumo para produção de HBI (produto intermediário entre o minério de ferro e o aço), com uso de hidrogênio verde. “Além da matriz elétrica diversificada, o Brasil tem abundância de água doce, o que dispensa a dessalinização e reduz os custos”, disse no fórum Ludmila Nascimento, diretora de Energia e Descarbonização da Vale. A empresa firmou acordos com as europeias Stegra, produtora de aço verde, e Green Energy Park, empresa de energia renovável, para estudar a construção desses hubs e de uma usina de hidrogênio.

Para Alvarenga, da thyssenkrupp, o Brasil deve apostar em “projetos estruturantes” — empreendimentos de grande porte. “Esses projetos maiores são fundamentais para viabilizar uma indústria nacional.” Bastos, da White Martins, defende que não há tempo a perder. “Globalmente, há uma corrida pela liderança na exportação de hidrogênio verde, incluindo países como Austrália e Chile, e o Oriente Médio”, disse. “Enquanto a Europa está preocupada com segurança energética por questões como o conflito entre Rússia e Ucrânia, o Brasil pode aproveitar para ganhar escala, desenvolver conhecimento e liderar o setor.” Segundo ele, o momento é agora. É hora de dar um gás.

Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2024, edição especial nº 2918

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